13.07.09

O dia começou solareiro com uma corrida para o Hosp. Sta. Maria para uma consulta de rotina. Na sala de espera a minha cabeça encheu-se de ideias e de planos, ser uma recém-licenciada tem como maravilha primeira a panóplia de oportunidades zero à nossa escolha. É o escolhe o que queres para ti, torna-o possível do zero. Vai à procura dos teus limites, cria o teu mundo e as tuas oportunidades. No meio do ambiente festeiro que se criava no meu cérebro nunca poderia eu adivinhar as sombrias nuvens que se aproximavam...

No consultório médico o procedimento corria sem sobressaltos até que chegou à parte da prescrição dos medicamentos, a médica posou a caneta e anunciou que eu iria passar a tomar Lepicortinolo 20mg, um primo da tão temida cortisona. A reacção não poderia ser a mais natural: "eu não quero tomar, não quero ficar gorda. Prefiro as consequências da não toma." Mas não havia volta a dar, eu ia tomar aquele primo da cortisona, o tal nolo... na altura a situação não se assemelhou metade do aterrador que no caminho de volta a casa acabou por ter. No transporte público, mais conhecido por autocarro e que é um lugar onde eu por acaso penso mais profundamente ou mais conscientemente, o peso das palavras fez-se sentir. Tomar aquele nolo iria provocar o que eu a tanto esforço quero evitar, engordar, ficar com a cara que nem uma lua cheia. E aqui nem se trata de correr para emagrecer e evitar os doces para manter a linha, trata-se mesmo de um efeito da cortisona, inchar as pessoas que nem balões.

Podemos ser conscientes ou racionais completamente livres de emoções em relação a isto, o medicamento vai ser para o meu bem. Para a minha saúde, para evitar que toda esta situação se agrave. Mas como posso ser eu racional quando todos os dias que eu vir a minha cara eu achar que estou a ver a minha cara e a de outra igual a mim no mesmo pescoço?! Quando todos os dias de manhã eu olhar para o espelho e sentir que aquela não sou eu? Não se trata apenas de um sentido de estética e do que os outros acharão mas sim de como eu me vou sentir. Para quem está de fora pode se tratar de uma futilidade e podem até dizer que o que interessa é o que está por dentro, o que eu concordo mas também interessa o que está por fora!

Sei que vou ser eu à mesma mas isso não significa que me vá sentir bem comigo. Só me resta esperar que a coisa não seja assim tão grave e o nolo seja meiguinho. De cada vez que um tentáculo desta maldição silenciosa se estende só me apetece gritar e pontapear e ficar revoltada com o mundo. Mas o mundo não tem culpa nem ninguém que habite nele tem. Como posso culpar alguém pelo facto do meu sistema imunitário ser um imbecil que nem reconhece a própria dona?! Talvez culpar-me a mim mas eu não fiz nada de errado para ele se tornar confuso. Seria a mesma coisa que castigar um homossexual por ter preferido alguém do mesmo género.

Sonhos, esperanças e planos, de cada vez que se elevam parecem condenados a cair no abismo. A ser amarrotados por um comprimido de 20mg ou pela partida de alguém. Pela falta de alguém. Pela falha de alguém ou pelas minhas próprias falhas. Falta-me tanta coisa. Tanto por conquistar, tanto por amar e tanto por conhecer que não me posso deixar agarrar por este tentáculo espinhoso. E dizia eu que hoje era um dia tranquilo... Mais uma batalha a ser vencida. Sou perita em batalhas destas. Cair e levantar-me é uma mestria da qual eu sou mestra. Choro por dentro todos os dias com a falta que alguém que não conheço nem sei nunca se vou conhecer me faz. Choro pelo pai que tenho como se não tivesse porque é um pai que não me quer. Choro porque os que amo e me amam estão tão longe, a família que Deus me permitiu escolher que ficou num sítio que amo tanto mas que está tão longe. Choro porque luto e luto e não vejo as recompensas, talvez elas sejam ver o quanto cresci e o quanto aprendi. Por mais que chore não desisto, vou continuar a minha luta e vou erguer a face para os seus e apreciar cada coisa boa que venha. Seja o Sol numa manhã de trabalho, seja a brisa numa pausa de almoço. A chuva que cai numa noite de erros será o lavar da minha alma. Mas tudo isto será sempre bom porque eu vou continuar a lutar pelo que acredito e anseio.

Talvez como dizia um amigo, podes até engordar com esse tal nolo mas não vais deixar de ser tu. E nós, os teus verdadeiros amigos, vamos estar sempre contigo e vais ser sempre a mesma para nós. Talvez fosse a isto que ele se tivesse a referir. Palavras tão boas vindas de tão longe, soam a bênção dos céus. Foram e são uma das melhores coisas da minha vida, são uma bênção na minha vida.

O dia acabou numa confusão de encontro e desencontro mas ainda assim acabou bem, trouxe a bênção dos céus.

sinto-me: receosa
música: Surround me, Scott Stapp
publicado por kelita às 19:03

Olá Kelita,

Durante a gravidez o médico mandou parar, e pelo que já li, fez ele muito bem. Mas cada caso é um caso. Já agora, durante a gravidez os sintomas desaparecem, pelo menos no síndrome de Reiter, que é a minha doença. Não tomei medicação e nunca andei tão bem, foi bom relembrar os tempos em que não tinha doença. Depois da gravidez voltam e, por esse motivo, voltei à medicação e o meu leite materno ficou fraco para alimentar.

Já agora, onde leste que tenho uma filha? :D
Lúcia a 15 de Dezembro de 2011 às 00:32

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